Caminho pela estrada afora buscando inspiração no pensamento, procurando dar lógica às metáforas da vida.

Ela alcança-me, dá-me a mão e segue ao meu lado. É Camilla, minha neta. Traz nos lábios o sorriso de criança, no coração, o amor de menina-mulher desabrochando; no corpo, a pureza do intocável.

Na antítese da vida, ela é a alvorada, plena de euforia, ansiosa por viver;  eu, o sol poente que se despede do dia, ávido pelo descanso. Eu sou o passado; ela o futuro. Ela a primavera, eu, o inverno desbotado.

O vento sopra nossos rostos e continuamos o caminho. Ela, com passos saltitantes, eu, com passos cansados.

A saudade de ser como ela habita-me. Nessa idade, a cabeça é um verdadeiro jardim florido, sobrevoado por borboletas multicoloridas. Ela traz consigo o ideal de todos os vivos, a busca de todos os mortais, a certeza de que é dona de todas as alegrias, todos os suspiros. Todos os espelhos refletem seu olhar sonhador e a ternura do lindo semblante. É dona de uma felicidade sem medo que grita ao mundo que existe.

Quero seguir esse caminho hoje... porque amanhã talvez não haja tempo. Cantar com ela canções de lirismo, subir montanhas e olhar a terra de cima. Abraçá-la e chorarmos juntas, não por temor, mas por amor. Acho que ainda consigo lhe ensinar a colher os frutos das árvores e plantar as sementes brotantes.

Somos iguais na forma de tornar fantasias em realidade, na imaginação. Somos paradoxos caminhantes, de mãos entrelaçadas. Ela, cheia de vida; eu, cheia de nostalgia. Ela, manejando bem as novidades adquiridas no percurso. Eu, sentando de vez em quando e tentando assimilar o excesso de informações que chegam aos borbotões, mas que não mais me extasiam.

Meus poemas morreram inéditos em idiomas mortos. Houve tempo em que me pensei paisagem, me fiz lago, galho-refúgio de pássaros. Hoje sou um entrançado de espinhos que luta para não ferir essa bela rosa.

Sou um navio sem rota, enquanto ela ergue as velas esperançosa, rumo ao desconhecido.

Os planaltos de Camilla são verdes e cruzam as manhãs. Seus sentimentos são brancos e os lírios dos canteiros se abrem para ela. De suas mãos brotam coisas novas e há um brilho de águas claras em sua face. Deixo-a entretida, saio às escondidas, entre os arcos, sobressaltando o tempo.

Restaram-me, das andanças pela terra, os carrosséis de ilusões,  puxados por negros cavalos. Nada levo de volta porque trouxe apenas imaginações e estas ficaram crucificadas no Getsêmani das horas, dias, meses, anos...

O tempo envelheceu... e eu continuava sonhando.

Camilla é o começo... eu, o fim.

Midi: A última rosa do verão de Marta

 


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