Maria José Zanini Tauil


Carlos José


"Se tu queres uma lembrança de mim, pede-me agora, pois vou partir e por aqui, talvez não volte nunca mais...Se tu queres uma lembrança de mim pede depressa, pra que eu te deixe o coração, que no meu peito não se cansa de esperar...Eu, sim, quero uma lembrança de ti, um doce beijo"...

Assim estava escrito no papel que minha mãe sacudia freneticamente, quase esfregando na minha cara. As perguntas vinham como uma avalanche, sem espera de respostas: "Quem é Carlos José? Que lembrança você quer dar? Para onde você pensa que vai viajar? Quer fugir de casa com esse cara? Me diga!O que você quer fazer de sua vida?E não me diga que é de alguma amiga! Essa letra é sua!"

Eu não entendia nada! Ela não me deixava falar! Por fim, tive o tal papel nas mãos. Era a letra de uma música chamada LEMBRANÇAS, quem interpretava era o cantor CARLOS JOSÉ.

Expliquei pacientemente à minha mãe, do que se tratava. Ela não se convenceu. Tive que "estacionar" diante do rádio por horas, até que numa parada de sucessos Da Tupi, tocou a bendita música. Ela acompanhou-a todinha pelo papel. Continuou não acreditando em mim, pois o locutor não citou o nome do intérprete.

Carlos José continuou por muito tempo sendo um namorado invisível que minha santa mãezinha arrumou para mim..Se ia numa festinha na escola, ela perguntava às minhas amigas: "O Carlos José também vai?"

Um dia, meu pai trouxe um amigo para o jantar. Ele trabalhava na rádio Nacional e trouxe um agrado para minha mãe. Era um disco setenta e oito rotações com o belo sorriso de Carlos José na capa. Era a música Lembranças...

Minha mãe olhou-me com cara de "tacho".
 

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