O mundo ficou mais estreito
Ou eu engordei?
Não sei...
Voltei à casa da infância
Apavorei-me
Que corredores estreitos!
Mas como?
Não houve mudanças!
É a mesma construção
Onde estão os corredores amplos
Do tempo de menina?
Nada foi modificado
Estão no mesmo lugar
descobri então...
É que a visão adulta
Diminui encantos

II
Não queria ser novelo
Queria ser novela
Não a atriz, mas a personagem
Aquela que some ao apagar das luzes
E volta renovada todas as noites

Caminho na estrada dos contrários
O mundo se estreita
Eu me alargo
Esparramo-me
A desintegração se antecipa
Já nem caibo no espelho!

Desproporção assustadora!
Antes, a coragem heróica
Hoje, a coleção de receios
Multiplicação de inseguranças

Osteoporose...meu gato de estimação
Fica nos meus joelhos
Mastiga-me aos poucos
Sou novelo de lã
Puxado pela vida

III
Meu rio se estreitou
As margens estão próximas
Meu barco é lento
Meu leme é torto
A memória me trai
A omissão é rotina
Calo-me por vergonha
De perguntar de novo
Minha butique? A farmácia
Protetor solar máximo
Ando pelas ruas sem rumo
Olho vitrines...
Nada foi feito para mim...
Ah! Queria instantes de felicidade
Neles poria a minha demora!