Mary Fioratti                              Jô Tauil

 

Há um risco, um leve risco
em uma folha em branco
um risco tênue, podendo facilmente
passar despercebido
Nessa linha tênue, "quase mancha"
subitamente imaginada
ou talvez um desenho
é que se dá o antagonismo
da alma que se debate em silêncio
parada no meio da "quase linha"

Nem ágil, nem delgada,
singular... talvez nervosa
Sem área curva
o pensamento nela enseja
místicos desejos
mesmo sendo um traço...
"quase linha"

Fita-se a folha
esforça-se os sentidos
para completar o risco
a "quase mancha" ou "quase linha"
talvez seja um desenho do âmago
transformado em faísca...

Um certo neblinamento
que meu olhar confunde
uma interrogação inexistente
um errante traço
que me absorve os pensamentos

Há um risco, um leve risco
que paira na folha em agonia
sobe e desce em meu corpo
e faz arder o que sinto
Perdendo-me em teus olhos
meu eterno labirinto

Risco perdido, nostálgico, secreto
Tão fino, desoladamente inquieto
Que nas minhas alucinações
Vira tua mão
Que me acende...
Que me estremece
Me enlouquece.



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